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O dilema açoriano

 

 

Nos últimos dias temos vindo a assistir a um recrudescimento da agitação social. Nada que os cidadãos mais idosos formados na cartilha da vida e os investigadores sociais não tenham avisado. Com o correr dos meses e o agravamento da situação financeira das famílias, fruto das “promissoras” medidas de austeridade, os continentais e também os açorianos, começaram a sentir no bolso, nos orçamentos e no comércio quão penosa é a “melhor” receita para resolver a situação em que nos encontramos.

Os resultados não são positivos e agravam-se de mês para mês, embora o desacreditado e obstinado primeiro ministro continue a defender não haver alternativas à sua política, enquanto outros economistas já prevêem segundo resgate.

As imagens de instabilidade e insatisfação social que, diariamente, preenchem os espaços informativos nacionais, bem como as medidas restritivas apresentadas, desfocam o universo de actuação política do governo açoriano, recentemente empossado, o que representa um perigo para a afirmação e justificação do regime autonómico.

Se é verdade que a maioria dos continentais: deputados, governantes, entidades ligadas à justiça, ao ensino, à saúde, às forças militares e de segurança, quadros dos sectores empresariais público e privado, desconhecem, em absoluto, quer a realidade insular açoriana, quer as competências e actuação dos seus orgãos de governo próprio, também é certo que não insistimos em afirmar a nossa identidade ou publicitámos a actuação governativa para responder aos problemas específicos que nos afectam e que constituem o fundamento do poder regional autónomo.

Temo que o descrédito popular em toda a classe política continental atinja de modo identico os políticos açorianos acabados de ser sufragados em eleições regionais.

Impõe-se, portanto, ao novo governo dos Açores uma resposta rápida e eficaz aos problemas do desemprego que nos últimos 12 meses aumentou 31% e que penalisa, gravemente, 37% dos jovens, com especial incidência sobre as mulheres.

Não nos conforta o desemprego na região estar abaixo da média nacional.

Somos um arquipélago de dimensões reduzidas, num território extenso e repartido.

O sector agro-industrial sofreu uma evolução apreciável e os produtos lácteos açorianos afirmam-se cada vez mais no mercado interno. Falta a sua exportação para o estrangeiro, nomeadamente para o mercado da saudade, cujo potencial é significativo desde que optemos pela qualidade.

Não iremos longe se embarcarmos no negócio das marcas brancas que desvalorizam a qualidade e os produtores.

Nos tempos que corrrem, inovar e dar confiança aos açorianos deve ser a palavra de ordem do Governo de Vasco Cordeiro. Somos diferentes. Já o provámos, nos anos 50 e 60 do passado século e depois nos anos 80, com a pesca do atum que envolveu a pequena poupança na construção de muitas dezenas de traineiras cujas capturas alimentaram uma indústria de conservas que chegou a ser a nossa maior receita de exportação.

No século 19, provámos, com a cultura e fabricação do chá, do tabaco, do açúcar e do álcool a capacidade empreendedora de proprietários e industriais abastados. E já antes, haviamos exportado para as cortes europeias o afamado vinho do Pico que continua a ser um dos nossos atractivos, bem como a sua paisagem primitiva consagrada como património mundial.

Agora, os tempos são de mudança de paradigma económico, financeiro, ambiental e industrial. Também aqui temos muitas potencialidades.

A nossa posição geo-estratégica continua a afirmar-se no contexto das nações, agora em clima de paz, se bem que as potências ocidentais pretendam manter a sua supremacia face a países emergentes.

Temos de tirar proveito da nossa localização no Atlântico Norte para crescermos e nos modernizarmos, estabelecendo parcerias com nações amigas que sempre nos receberam e que ajudámos a construir, nomeadamente: Estados Unidos, Canadá, Brasil, em domínios como a investigação científica, a agricultura, o ambiente, a saúde, a exploração dos recursos subaquáticos, o turismo, a formação profissional e outros. Como fazem outros povos.

Os açorianos aguardam que o governo dos Açores enverede por políticas que valorizam a inovação e a criatividade aos níveis mais avançados, seja nas áreas tradicionais seja em novos sectores económicos.

Temos de ser um território diferente para melhor, contornando o desemprego com a abertura de novos ramos de negócios, abrindo-nos aos países mais desenvolvidos, relevando a nossa localização geográfica e as nossas potencialidades e apostando na valorização dos nossos jovens e na capacidade científica da nossa universidade.

O pior que nos pode acontecer é desbaratarmos as nossas competências autonómicas, prosseguindo caminhos velhos e ultrapassados, ou aguardarmos que a crise passe para seguirmos o modelo da mãe-pátria.

A História não perdoa a quem opta pela subserviência e não tem ideias próprias.

Este é o dilema que se coloca hoje aos novos governantes açorianos.

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